A Carta

Capítulo # 5

A carta continuava:

"Pois é, ele me procurou apressado na última noite e parecia muito nervoso, diferente do homem calmo e alegre que sempre conheci. Alguma coisa se sucedeu que o transformou nesse tanto.

 

Você sabe das minhas visitas à casa dos dois velhinhos. Te falei parte das histórias que me contavam, mas parte não dividi com você porque achava que eram coisas muito absurdas, que o casal era apenas um casal de velhinhos bem intencionados, mas meio doidinhos. Me divertia com eles e ouvia as histórias deles mais por carinho do que acreditando nelas.

 

Tudo mudou há umas poucas semanas. Parece que, acreditando mais em mim, de uma porta secreta no armário grande do quarto, tiraram uma caixa grande e muito antiga. Poderia até ser parecida com um baú de piratas não fosse que a tampa não tinha dobradiças.

 

Os dois estavam muito empolgados me mostrando o velho baú. Naquele momento senti que eles me mostravam seu mais precioso tesouro. Eles confiavam em mim num nível que eu não podia imaginar.

 

Puxaram a peça para fora do compartimento secreto e a colocaram com dificuldade em cima da mesa dos mapas.

 

Vovó Betina falou com orgulho apresentando-me a caixa com as mãos.

— Veja como é lindo seu acabamento. Veja se consegue descobrir onde está a tampa.

 

A peça era linda mesmo, em madeira maciça, toda gravada com desenhos de povos e rituais, tinha ainda cravejados diversos tipos de metais e pedras que me pareciam preciosas.

 

Eu nunca havia visto nada assim. Os detalhes e o acabamento eram perfeitos. Ela era, ao mesmo tempo, uma peça muito delicada e robusta. Foi quando Betina me perguntou:

— Consegue achar a tampa?

 

Fácil, eu pensei. Basta achar uma linha reta horizontal que lá estará a tampa.

 

Que nada, procurei, procurei, e nada de achar a tampa. E se eu não era capaz de achar a tampa, era menos ainda capaz de abri-la. Eles sorriam com orgulho, me vendo frustrado tentando descobrir como abrir.

 

Quando desisti eles abriram outro compartimento secreto, desta vez no forro do teto da casa.

 

De lá saiu uma espécie de chave, se é que posso chamar assim. Tratava-se de uma cópia em relevo negativo de uma das figuras esculpidas na caixa. Havia muitas figuras parecidas, de modo que era difícil saber em qual delas se encaixaria a figura.

 

— Esta chave só se encaixa em uma figura com perfeição. Se tentar encaixá-la no lugar errado, uma ampola de ácido se abrirá dentro da caixa destruindo seu conteúdo. Não há uma segunda chance.